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Análise com IA confirma autenticidade de manuscritos bíblicos

Publicada em: 18/06/2025 13:33 - Notícias Adventistas

Método utiliza datação por radiocarbono e modelo de Inteligência Artificial (IA) por pesquisadores de universidade holandesa.


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Fragmentos dos famosos manuscritos continuam rendendo análises de estudiosos. Textos representaram uma grande mudança na crítica textual do material bíblico, sobretudo do Antigo Testamento. (Foto: Shutterstock)

Uma análise diferente, coordenada por pesquisadores da Universidade de Groningen, na Holanda, reafirma a autenticidade dos chamados Manuscritos do Mar Morto. Trata-se de documentos descobertos nos anos 1948 e 1949 em cavernas na Judeia, com cópias de grandes porções de textos alusivos ao Antigo Testamento da Bíblia Sagrada.

nova metodologia usada une datação por radiocarbono e um modelo de inteligência artificial. Na prática, os fragmentos analisados mostram que os escritos podem ser mais antigos do que se pensava. Quem comenta essa metodologia, nesta entrevista para a Agência Adventista Sul-Americana de Notícias (ASN) é o teólogo adventista Luiz Gustavo Assis. Ele é bacharel em Teologia pelo Centro Universitário Adventista de São Paulo (Unasp), mestre em Arqueologia do Antigo Oriente Próximo e Línguas Semíticas pela Trinity International University, e doutorando em Bíblia Hebraica pelo Boston College. Sua pesquisa doutoral envolve a aquisição e produção de conhecimento oracular (profético) na Bíblia Hebraica, especialmente no livro do profeta Ezequiel. No momento, Assis atua como pastor sênior de duas congregações adventistas nas cidades de Anaheim e Orange, no estado da Califórnia, Estados Unidos.

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Quais foram os grandes achados dessa nova metodologia de datação e por que isso é importante para a confiabilidade do texto bíblico?

Os resultados mais significativos advêm da aplicação de uma metodologia inédita que combina datação por radiocarbono (C14) com análise paleográfica automatizada por meio de inteligência artificial. Por paleografia, refiro-me ao estudo da escrita, formato e evolução de letras ao longo do tempo. O modelo desenvolvido, chamado Enoch, demonstrou um grau notável de precisão, chegando inclusive a identificar datas mais antigas do que se supunha para certos manuscritos de Qumran.

A importância disso transcende a mera questão cronológica: os dados reforçam a ideia de que determinadas composições bíblicas já circulavam em formas relativamente estáveis a partir do 2º século antes de Cristo. Isso, por sua vez, oferece uma possível base empírica para discussões sobre a confiabilidade da transmissão textual do Antigo Testamento. A pesquisa não contribui em nada no que diz respeito às histórias narradas no texto bíblico.

Uso de IA

Qual a diferença desse método em relação aos anteriores? Utilizou IA, certo?

É um método diferente das abordagens tradicionais, que dependem da avaliação subjetiva de especialistas quanto ao estilo da escrita. Isso fica claro quando especialistas divergem da leitura e datação de pequenos fragmentos textuais entre os manuscritos do Mar Morto ou um pedaço de cerâmica com uma pequena inscrição. Essa metodologia introduz um componente quantitativo: algoritmos de inteligência artificial treinados com manuscritos já datados por carbono-14.

A principal inovação está na forma como o modelo cruza variáveis geométricas da escrita — como curvatura, espaçamento e angulação das letras — com cronologias conhecidas. O resultado é um sistema capaz de identificar padrões imperceptíveis ao olho humano e produzir estimativas probabilísticas com alto grau de precisão. Além de reduzir o fator subjetivo da análise paleográfica convencional, essa abordagem oferece maior transparência metodológica e, sobretudo, escalabilidade. Agora é esperar para ver como os principais nomes da paleografia hebraica (Emanuel Tov, Christopher Rollston, Bill Schniedewind, Shmuel Ahituv, P. Kyle McCarter, Jr., entre outros) vão reagir a estes resultados.

Desafiando argumentações

No caso do livro de Daniel, essa descoberta coloca em dúvida uma tese da alta crítica, certo?

Potencialmente, sim. A crítica histórica—especialmente em sua formulação clássica nos séculos 19 e 20— sustentou que o livro de Daniel teria sido composto no contexto do período macabeu (c. 165 a.C.), em função tanto de seu vocabulário quanto de sua orientação apocalíptica, considerados mais compatíveis com o ambiente helenístico (grego).

No entanto, se os manuscritos de Qumran (4Q114) contendo trechos de Daniel forem confirmados, por meio dessa nova metodologia, como anteriores ao período macabeu (entre os anos 230-160 a.C.), tal constatação impõe um desafio significativo a essa hipótese. A circulação de cópias já naquela época implicaria uma composição anterior, o que abre espaço para uma datação exílica (referência ao exílio pelo qual o povo chamado de judeus passou na antiga Babilônia), ou mesmo pós-exílica precoce, em linha com tradições mais conservadoras. Novamente, esses resultados têm implicação apenas com a transmissão textual do livro de Daniel, não com suas histórias e profecias.

Futuro

Você acredita que novas descobertas ainda poderão ser feitas quanto à autenticidade e confiabilidade dos manuscritos do Mar Morto?

O campo está em plena transformação. O uso de inteligência artificial, sobretudo na análise combinada de caligrafia, materialidade e padrões linguísticos, promete reconfigurar o estudo da de línguas bíblicas, assim como já tem feito no estudo de literatura cuneiforme e clássica. Vale lembrar que muitos fragmentos de Qumran ainda não foram analisados com os recursos disponíveis hoje.

Nesse sentido, é plausível supor que descobertas futuras não apenas aprofundem nosso entendimento cronológico, mas também revelem vínculos entre tradições textuais até então consideradas isoladas. Isso também deve permitir reconstruções de manuscritos fragmentados e até identificação de diferentes mãos de escribas num único manuscrito.


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